“Vivemos uma relação muito doentia com os meios de consumo, com a publicidade criando desejos, definindo valores. O ano inteiro o filho pede ao pai para não se esquecer de comprar a bicicleta e a margarina virou símbolo de realização familiar”. Diante do cerco, é difícil romper “a crosta de hipocrisia”, que estabelece falsos parâmetros para a observação da realidade. “Estamos mergulhados nisso, diante de uma televisão esquizofrênica, que não permite o silêncio, não pára um instante sequer e impõe hábitos”.
A partir dessas constatações compreendemos o papel social do artista e a essência do fazer teatral. “O teatro tira as pessoas de casa, obriga o deslocamento para um lugar público, para conviver em ambiente onde é possível se encontrar vivamente com o outro, sem a abstração da sala escura de cinema. É um lugar de diálogos”. Por isso ele se tornou instrumento de construção de um novo protagonista, o cidadão, que tem consciência de seus direitos. “O teatro é o grande antídoto”.
E a PLENITUDE que a atuação cênica possibilita?
Está no palco, nas coxias e nas salas de ensaio a realização de se sentir senhor de suas próprias idéias. Essa não é uma revolução pequena. “Numa sociedade terceirizada, que nos aliena da plena posse da nossa capacidade de agir, o teatro promove imensa transformação em quem o realiza”. O privilégio dessa responsabilidade, precisa ser devolvido para a comunidade em forma de espetáculos e encontros, estabelecendo nexos para diálogos intensos e sem meias-palavras.
“Paulo José”