“A religião não faz o homem, mas, ao contrário, o homem faz a religião: este é o fundamento da crítica irreligiosa” (Karl Marx, 1818-1883). “Ser homem é tender a ser Deus; Ou, se preferirmos, o homem é fundamentalmente o desejo de ser Deus” (Jean-Paul Sartre, 1905-1980). “Este é o mistério da religião: o homem projeta seu ser na objetividade e então se transforma a si mesmo num objeto face a esta imagem de si mesmo, assim convertida em sujeito” (Ludwig Feuerbach, 1804-1872). Temos aqui três citações de filósofos que defendiam a idéia de ser o homem criador de Deus e não o contrário.
Segundo Marx, as concepções religiosas tendiam a desresponsabilizar o homem por seus atos. “A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo”. Esta sentença proferida em Crítica da filosofia do direito de Hegel o tornou reconhecido como crítico sagaz da religião. Porém, Marx não se ateve estritamente às questões religiosas. Basicamente, ele seguiu as opiniões de Feuerbach, para quem, a religião era apenas fruto da fantasia dos homens. Para Marx, o homem é o que é. Ele se constrói a partir do nada, tentando ser Deus, sem poder sê-lo, por isso sofre angustias e náuseas. Quanto a Sartre, este defende que “Deus não existe, e a não existencia de Deus tem profundas implicações, primeiro porque não há nenhum criador do homem”. Segundo, porque se Deus não existe, então tudo é permitido. Terceiro, porque “não há sentido algum para vida humana; a vida é absurda”.
Para Feuerbach, se a essência divina fosse diferente da essencia do homem, não haveria cisão. E a religião é uma cisão do homem com sua própria essência. Enquanto que para Marx, a religião provoca uma felicidade ilusória, e é preciso que o homem abandone essa condição de ilusão para conquistar a felicidade real. Neste sentido, Sartre acreditava que Deus não poderia resolver nada para o homem, nenhum de seus problemas, dores ou alegrias. Tudo que o homem faça, conquiste ou sofra é de inteira responsabilidade do próprio homem. Mesmo que a existencia de Deus fosse comprovada, ainda assim, nada mudaria. Portanto, a idéia de Deus faz-se totalmente absurda.
Podemos entender que a concepção de religião comum a estes três pensadores é que: a existência precede a essência. O homem projeta uma imagem de si mesmo, uma imagem perfeita, onde todas as suas limitações são superadas. Cria um Deus à sua imagem e semelhança e através dos dogmas e cultos busca esta sensação de êxtase que o contato ou proximidade com o Ser Divino e Absoluto proporciona. Mas em verdade, não existe nenhuma natureza fixa, criadora, a qual o homem deva se submeter e respeitar. Portanto o homem é livre e responsável por si mesmo. Sendo tal liberdade e responsabilidade as causas de toda sua angústia.